21 de maio de 2009

MONÓLOGO SOLITÁRIO

Porque falar, se o falado ao que fala não volta?
Se a conversa a dois procede
A dois o assunto remete
A não ser que um em outro lugar esteja
E apesar de que o veja
O assunto é um, e um só fala.
E porque falar, se o que se ouvi em troca é um "aham"!
Se é que "hum" e "aham" são falas.
São sons que não dizem
Dizem o que pensam, e não pensam.
Esquecem que a conversa a dois pertence.
Penso no que falo
Penso no que não ouvi, se é que ouço
O "aham" que balbucia.
No silêncio reflete
O que de dentro, inverte
O que a cabeça pensou.
Mas não disse.
Pra que falar se o olhar desvia
E o outro finge que via
Mas não viu seu sinal.
Foi um tchau ao nada
Ao estranho na estrada
Que me engana com o olhar.
Olha mas não vê o sorriso
Que ao estranho dirijo
Sem saber se é pra mim que acena.
E a comunicação se desvia
Pois via alguém que eu não vira
Visto a face de sorriso
Mesmo estando em outro lugar
Pra que haja, ao menos
A ideia de que estou aqui.
Mas não estou.
Por isso não falo.
Por isso não respondo.
Por isso não converso.
Por isso, ainda, não amo.

Nenhum comentário: