7 de junho de 2009

REDOMA


Protegido de tudo, um ser encontra-se dentro de uma redoma. O vidro o permite presenciar sem participar o que ocorre ao derredor. Sua beleza, sua bondade e perfeição são dignas de cuidados. É quase intocável. É complexo, mas frágil. Por isso a redoma. Permanecer belo, intocável, santo. Proteger-se, mesmo não vivendo. Dentro da redoma, a solidão consome. O inverno nunca chega. E o ar acaba. E o que era belo, intocável padece. De perfeito passa a nada. Perfeição. Beleza, vida. Conceitos voláteis. Protegidos por nada mais que você mesmo. A redoma deve ser quebrada. O vidro deve cortar o ser. Deformável. Tocável e frágil, tão simples. Ser. Viver. Permanecer vulnerável. Perfeitamente você. Imperfeito. Interactivo. Iterativo. Não há mais beleza na redoma. A beleza está na imperfeição. A rosa, murcha, morre. Isso é belo. Já não é. Beleza. Toque. Que leva a sentir, o frio do inverno que chegou. O vento no rosto. O oposto da redoma. Mas respirável. Não finito. Vidro quebrado. Não protege. Transforma, ensina, revela. Desprotegido de quase tudo, um ser encontra-se fora de uma redoma quebrada.

6 de junho de 2009

EDIFÍCIOS





É entre a imensidão dos arranhaceis que minha alma tem a mínima noção do tamanho e importância que tenho no mundo. É sobre a sombra de um prédio que experimento a triste sensação de auto controle. Eu os faço. Eu os possuo. Eu os crio. É andando em uma avenida movimentada, congestionada que paro pra pensar. É o único momento do meu dia em que paro. Só eu, não ela. Ela fica lá. Incrustada em meu ser. Sem ter a coragem e a compreensão de é ao lado das gigantes torres de concreto que é o seu lugar. Almas se aglomeram ao redor de prédios. Principalmente os antigos. Na esperança de que o que é imenso fisicamente destrua, anule o que é imenso interiormente. Meu ser deseja que eles ruam. Caiam diante de meus olhos. Sobre mim. Todo dia edifícios caem ao meu redor. Não tive a sorte de que um caia sobre mim. E a alma grita. Permanece. Na sombra deles a esperança renova. E o ser grita. Mas esse é seu desejo. Isso. Ruína. Se na carne caio, se a alma foge, me esvazio. Apesar de vazio não sou oco. O meu ser me sustem. Meu espírito me suporta. Elevo-me ao céu. E não mais estou sobre as sombras. Agora já não importa que caiam. Estão sempre abaixo de meus pés. Meu espírito. Meu ser. Meu sustento.
Ruínas nunca mais. O passado ao passado pertence. Elevo os olhos para os montes. Já não estou enclausurado em congestionamentos. Já não estou sobre sombras. Edifícios. Eu os faço. Eu os destruo. Eu os elevo, e os ignoro. A alma não prevalece. O espírito preenche. É difícil, mas não mais edifícios.