27 de novembro de 2009

... NO MEIO DO CAMINHO

"No meio do caminho tinha uma pedra..."

Foi o que Drummond escreveu uma vez.
Sabe. Isso é bem verdade. Nunca encontrei alguém que me dissesse que nunca passou por problemas ou dificuldades. Ou alguém que nunca tenha sofrido e batalhado para alcançar algo. E isso é mais verdade ainda. Ninguém, nunca, em tempo algum terá uma vida fácil. Sempre teremos aflições. E sempre precisaremos dar um jeito nelas.
As vezes, a nossos olhos, a pedra no meio do caminho mais pareça o Evereste. Pode ser até mesmo um cisco no nosso olho. No momento em que encontramos com essa "pedra" não conseguimos a ver do tamanho que realmente é. Tropeçamos nela, caímos, e só depois olhamos para traz. Olhamos para a pedra. Vemos tantas coisas que nos rodeiam, tantos sonhos a serem realizados, tantos tantos. Olhamos sempre firmes e altivos para o alto esquecendo de dar valor as pedras que encontramos no nosso caminho, sem enxergar o real tamanho daquela pedra em nossas vidas.
Fomos educados a andar olhando pro chão. Prestar atenção no caminho que andamos. Nossa trajetória. Quando enxergamos uma uma pedra grande, nos desviamos dela. Quando uma pequena, damos um chute para que ela não mais te incomode ou venha a incomodar outros.

Pessoas são pedras. Oportunidades são pedras. Nossos próprios caminhos são feitos de pedra. Sempre haverá uma pedra no meio do caminho. Temos que aprender a valorizar os tropeções e sustos que elas nos dão. Assim como as alegrias, os momentos, a vida, que essas pedras nos dão, nos proporcionam ou nos lembram.

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho."
Dessa parte todo mundo lembra. Mas alguém lembra o que diz o resto?

"Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra."

9 de novembro de 2009

NARRATIVA IMPESSOAL

A mente está vazia. A alma chora. O corpo esfria.
Da janela vê-se os pássaros em revoada. Buscam abrigo.
Uma negra e densa nuvem se aproxima.
O céu chora. O sol não vai se por essa tarde.
Seu brilho não será visto. Por mim muito menos.
As cortinas são fechadas.
Uma garotinha e arrastada para fora do quarto.
Em prantos é arrastada. Deixa gotas de lágrimas no chão.
Sua face é rosada. Seu olhar grande, mas fundo.
A porta se fecha. É esmurrada por alguns segundos.
Silêncio. Nada mais. Escuridão.
A cama não está vazia. Muito menos arrumada.
A nudez não é escondida. O corpo está a mostra.
Uma única pessoa vê a cena agora. Um único olhar.
Ouvi-se gritos novamente.
Pela fresta da cortina consigo imaginar o que acontece no quintal.
A garotinha saiu. Olha fixamente para a janela enquanto grita.
Uma primeira gota de chuva cai sobre ela.
Ela olha pra cima. A nuvem negra parece cobrir apenas sua casa.
A terra torna-se em lama. O vestido branco está russo e molhado.
A face antes rósea está pálida.
Suas forças acaba. Se joga no chão.
Dentro do quarto a nudez é coberta. A porta aberta.
Aquele que via não mais quer ver.
Sai pela porta da frente. A garotinha o olha furiosamente.
O silêncio retorna à casa, a garotinha volta ao quarto.
Está tudo revirado. As gavetas mexidas.
Jóias e cartão de crédito, foi tudo que levaram.

5 de novembro de 2009

ELA

Um dia abri os olhos. Foi a primeira vez.
Um luz intensamente branca invadiu minha mente.
O meu cérebro não sabia ainda decifrar as cores que entravam em meus virgens olhos.
Mas meu tato reconhecia o tato daquela pele. Meus ouvidos reconheciam aquele suave e macio som. Meus instintos reconheciam aquele amor.
E dentro em meu coração foi ativado o desenvolvimento de um amor incondicional por aquele vulto ainda informe que se coloria em minha mente.
Mas com o tempo a imagem foi clareando. E não importava beleza, tamanho, forma ou cores. Importava que aquela imagem estivesse sempre em meu campo de visão.
Importava ouvir sempre aquele som. sentir sempre sua pele. Seu amor.
A mente cresceu. E com ela o corpo que a comportava.
Conheci o significado de beleza, de bondade, de confiança, de humildade, de firmeza e segurança.
Todos esses conceitos enquadravam naquela pessoa a quem ainda não conseguia chamar, mas conseguia reconhecer.
Nesse período só me expressava com gritos, grunhidos e choros.
Não era o suficiente pra demonstrar o que sentia.
Foi então que resolvi falar.
Imitar aquela voz que tanto dizia alegrias e amores em meus ouvidos.
Não foi fácil. Mas pronunciei mãe!
Esse foi o começo.
O meio é sempre perturbado.
O mundo exige que outros nos ensinem muitas coisas. Alfabetização, educação, relacionamentos. Muito disso foge dos conceitos que ela vinha inculcando em mim com atos e não forçadamente.
Foi então que pronunciei grosserias. Desavenças e maldades.
Percebi que estava andando longe do que sentia.
Tive que aprender novas palavras. Não só, mas també, viver o sentido que elas me traziam.
Foi então que pronunciei perdão, desculpe, foi minha culpa, posso ajudar.
Isso foi depois do meio.
Então tive que ir. O colo dela distante ficou. Não mais tinha sua imagem em minha frente. Não mais ouvia sua voz, a não ser por telefone. Ele distorcia a maciez daquele som a tanto tempo apreciado. O tempo gasta as memórias deixando-nos com a impressão que, apesar da distância, estamos bem.
A mente cresceu ainda mais.
E muita coisa foi dita.
Porém disse poucos "eu te amo".
Pronunciei poucas vezes a falta que fazia.
Demonstrei pouco em relação ao tanto de demonstrações que recebi todo esse tempo.
O tempo passa.
Os conceitos de beleza se apuram. O conhecimento da bondade aumenta. Nossa própria humildade e segurança são desenvolvidos.
Nada disso é suficiente para abalar a base sólida criada e desenvolvida junto com a imagem de uma mãe que, mesmo sendo um borrão no início, torna-se claramente algo essencial na nossa caminhada.
Não importam as rugas, a idade ou a mudança da voz. Não importa a cor do cabelo ou a distância.
Importa termos, nem que seja na mente, a imagem dela.
Sua voz, seu sorriso.
Ela, que me gerou, não só corpo, mas também mente e coração.
Aproveito essa oportunidade pra dizer mais uma vez: "Eu te amo!"


Feliz Aniversário