5 de novembro de 2009

ELA

Um dia abri os olhos. Foi a primeira vez.
Um luz intensamente branca invadiu minha mente.
O meu cérebro não sabia ainda decifrar as cores que entravam em meus virgens olhos.
Mas meu tato reconhecia o tato daquela pele. Meus ouvidos reconheciam aquele suave e macio som. Meus instintos reconheciam aquele amor.
E dentro em meu coração foi ativado o desenvolvimento de um amor incondicional por aquele vulto ainda informe que se coloria em minha mente.
Mas com o tempo a imagem foi clareando. E não importava beleza, tamanho, forma ou cores. Importava que aquela imagem estivesse sempre em meu campo de visão.
Importava ouvir sempre aquele som. sentir sempre sua pele. Seu amor.
A mente cresceu. E com ela o corpo que a comportava.
Conheci o significado de beleza, de bondade, de confiança, de humildade, de firmeza e segurança.
Todos esses conceitos enquadravam naquela pessoa a quem ainda não conseguia chamar, mas conseguia reconhecer.
Nesse período só me expressava com gritos, grunhidos e choros.
Não era o suficiente pra demonstrar o que sentia.
Foi então que resolvi falar.
Imitar aquela voz que tanto dizia alegrias e amores em meus ouvidos.
Não foi fácil. Mas pronunciei mãe!
Esse foi o começo.
O meio é sempre perturbado.
O mundo exige que outros nos ensinem muitas coisas. Alfabetização, educação, relacionamentos. Muito disso foge dos conceitos que ela vinha inculcando em mim com atos e não forçadamente.
Foi então que pronunciei grosserias. Desavenças e maldades.
Percebi que estava andando longe do que sentia.
Tive que aprender novas palavras. Não só, mas també, viver o sentido que elas me traziam.
Foi então que pronunciei perdão, desculpe, foi minha culpa, posso ajudar.
Isso foi depois do meio.
Então tive que ir. O colo dela distante ficou. Não mais tinha sua imagem em minha frente. Não mais ouvia sua voz, a não ser por telefone. Ele distorcia a maciez daquele som a tanto tempo apreciado. O tempo gasta as memórias deixando-nos com a impressão que, apesar da distância, estamos bem.
A mente cresceu ainda mais.
E muita coisa foi dita.
Porém disse poucos "eu te amo".
Pronunciei poucas vezes a falta que fazia.
Demonstrei pouco em relação ao tanto de demonstrações que recebi todo esse tempo.
O tempo passa.
Os conceitos de beleza se apuram. O conhecimento da bondade aumenta. Nossa própria humildade e segurança são desenvolvidos.
Nada disso é suficiente para abalar a base sólida criada e desenvolvida junto com a imagem de uma mãe que, mesmo sendo um borrão no início, torna-se claramente algo essencial na nossa caminhada.
Não importam as rugas, a idade ou a mudança da voz. Não importa a cor do cabelo ou a distância.
Importa termos, nem que seja na mente, a imagem dela.
Sua voz, seu sorriso.
Ela, que me gerou, não só corpo, mas também mente e coração.
Aproveito essa oportunidade pra dizer mais uma vez: "Eu te amo!"


Feliz Aniversário

Nenhum comentário: