22 de janeiro de 2010

CONVERSA COM O SILÊNCIO

Ouço ruídos ao meu redor. Estou sempre rodeado de pessoas. Mas não posso vê-las. Não por isso fico sem me comunicar com elas. Sim, converso com pessoas que não vejo. Assuntos dos mais variados, e elas sempre correspondem com o silêncio, que é a única coisa que são capazes de produzir. Silêncio. E eu respondo, claro, com mais palavras e palavras, gesticulo, sorrio. Se por acaso me filmarem parecerei um louco. E as vezes pareço mesmo. Falo sozinho. Se você não é capaz de ver as muitas pessoas que estão ao meu redor me ouvindo, paciência! O louco aqui é você!

20 de janeiro de 2010

CARTA DE AMOR A INGUÉM

Porque deveria gritar ao vento que te amo?

O vento não seria capaz de guardar essa verdade.

Espalharia aos quarto cantos o amor que é só seu.

Dividiria com as nuvens o sentimento que aquece meu ser.

Isso as faria chover.

Amo-te e não nego.

Mas também não espalho.

Não dividiria tamanha alegria com quem nada tem além de inveja.

Se o amor que construído está sobre base sólida de meus átrios e ventrículos os fazem pulsar por ninguém mais que tu, porque o ar que enche meus pulmões deveria sair pela boca espalhando esse segredo oculto em meu coração para aquele que não vêem razão em eu te amar?

Amo-te e não entrego esse amor a ninguém, a não ser tu.

Se cego estou, se corrompido por este amor, se chovendo de calor, se gritando de dor...

O que importa, senão o amor.

Amo-te e não nego. Berro ao vento que mantenha em segredo. Tenho medo de perder a quem ainda não tenho.

15 de janeiro de 2010

AUSÊNCIA DE LUZ

Não sei se pode me ouvir
E isso é ridículo, pois estou te escrevendo.
Todos os meus artifícios foram usados
Assim como você me usou.
Nosso passado é meu presente
E um abismo se abriu nele.
O sol parece brilhar lá fora,
Mas posso ouvir o ruído da chuva que logo cairá.
Posso sentir o vazio desse apartamento,
Posso procurar você entre os lençóis pela manhã
Mas não vou te achar. Não vou te sentir.
Não mais te amar, não mais sorrir.
Outras mulheres virão,
Outros dias ensolarados lá fora ocorrerão,
E com frequência.
Mas as cortinas de nossas janelas estarão fechadas
Não posso ver o brilho do sol aqui dentro
Sem que ele reflita o brilho dos seu olhos.
Não posso limpar as fronhas
Sem remover seu cheiro delas.
Não posso atender a porta
Sem interromper essa nossa conversa.
Espero que esteja me ouvindo atentamente.
Espero que seja você à porta.

Era o carteiro, nenhuma carta sua.
Nenhuma notícia.
Como o sol pode continuar brilhando como se nada tivesse acontecido?
Abri a cortina pra tentar encontrar a resposta.
Você estava parada em frente ao prédio
Segurando a mão de outra pessoa.

4 de janeiro de 2010

A CONDESSA

Neste mundo não se pode ter certeza de nada.
Eu sei é que onde quer que estivesse ela teria sido culpada.
Eu a amava profundamente e acredito que ela me amava.
A História não se preocupa com isso.
A verdade está por trás de uma parede de tijolos, e o tempo sepultará a todos nós.

(Frases finais do filme A Condessa)